REVIEW | Anno 117 é um game de estratégia acessível para fãs da Roma antiga

Com mais de 25 anos de existência, Anno é aquele tipo de série que nunca explodiu no mainstream, mas se mantém forte graças a uma comunidade bastante fiel. Em Anno 117: Pax Romana, a Ubisoft tomou medidas para simplificar a interface da experiência, mas sem deixar de lado a complexidade pela qual ela é conhecida.

No título, somos levados a um dos momentos de paz do Império Romano, no qual a estabilidade interna parece reinar. Ao mesmo tempo, continuam surgindo conflitos em Albion, graças a um processo de colonização que continua enfrentando resistência por parte dos povos locais.

Nesse contexto, nossa missão é iniciar uma cidade próspera que seja capaz de crescer tanto com seus recursos próprios quanto com a ajuda de aliados locais. Ao mesmo tempo, os povos nativos e outros governantes podem preferir usar a força para impedir que esses objetivos sejam cumpridos.

Anno 117 é um ótimo gerenciador de cidades

Tal qual acontece com a série Settlers — que também pertence à Ubisoft —, Anno 117 se foca mais no gerenciamento de cidades do que em batalhas ou sistemas diplomáticos complexos. Nele, seu objetivo é garantir o crescimento sustentável de sua população, o que envolve estabelecer cadeias de produção eficientes.

No começo de uma partida, sua maior preocupação vai ser em conseguir madeira e comida para sustentar uma população pequena. Não demora muito tempo, você vai se ver construindo tabernas, fazendas dos mais diferentes tipos e tavernas para garantir que sua população está feliz e tem acesso a bens luxuosos.

Ao mesmo tempo, também vai se preocupar em colocar em lugares estratégicos chiqueiros e carvoarias — afinal, quem tiver que morar perto dessas construções tende a ser melhor feliz e correr mais riscos de incêndio. Como cada item avançado possui uma cadeia de estruturas complexas ligadas a ele, é preciso planejar bem tanto a quantidade de cada uma delas que será construída, como o local em que isso vai acontecer.

Embora isso pareça complexo em um primeiro momento, Anno 117 torna simples entender como suas estruturas funcionam graças a uma interface acessível. Ao clicar sobre a opção de fabricar sabonetes, por exemplo, o jogo vai apresentar de forma clara toda a cadeia de suprimento que você deve estabelecer para ter esse luxo em sua cidade.

Anno 117 torna simples entender como suas estruturas funcionam graças a uma interface acessível

Ao mesmo tempo, cabe ao jogador ficar atento aos detalhes de cada uma dessas etapas para saber otimizar suas linhas de produção. Com isso, o game cria aquela velha máxima do “fácil de entender, mas difícil de dominar” que muitos títulos prometem, mas são poucos que entregam.

Campanha, combates e diplomacia

Caso você seja um novato à série, vale a pena encarar a campanha de Anno 117 antes de se aventurar no modo infinito do jogo. Ela serve como um grande tutorial narrativo que vai ensinar desde os conceitos básicos da construção de cidades até as mecânicas novas do game, que envolvem a mistura de duas culturas.

Depois de certo ponto, você pode decidir se vai direcionar suas estruturas para a arquitetura romana ou vai fazê-las seguir a tradição celta. Mais do que mudar a parte visual das construções, essa decisão também influencia no desenvolvimento de sua sociedade — estruturas romanas podem render mais dinheiro, mas as celtas são mais adaptadas a geografias com elementos de pântano, por exemplo.

Embora a campanha seja divertida e traga alguns personagens interessantes, ela peca em dois sentidos. O primeiro deles é “forçar” demais algumas situações, impedindo que os jogadores dominem totalmente as dinâmicas que são vistas no modo infinito do jogo.

O outro é o fato de que alguns conceitos básicos nunca são ensinados. Entre eles está como usar enfeites de cidades para ganhar prestígio, ou o fato de que é recomendado colonizar sempre mais de uma ilha para compensar a falta de certos recursos no local em que inicia sua partida — algo essencial nos momentos intermediários e avançados de qualquer partida.

Por falar nos pontos fracos de Anno 117, é preciso mencionar o sistema de combates do game. Enquanto eles não são exatamente ruins, a mecânica depende de uma quantidade limitada de unidades e não passa do meramente funcional. Nesse sentido, seria interessante que houvesse uma opção para ignorá-los totalmente, já que essa mecânica distrai da melhor parte do game, que é o gerenciamento de cidades.

A mesma simplicidade excessiva feta os sistemas de diplomacia do game, que não são muito difíceis de manipular. O título até tenta brincar um pouco com isso nas relações com o imperador, que são afetadas por sua capacidade de cumprir ordens dadas por ele, mas nem mesmo isso se prova algo intrigante após algumas horas.

Anno 117 traz um sistema de rotas comerciais bem interessante e ao qual vale a pena dedicar algum tempo

Em compensação, Anno 117 traz um sistema de rotas comerciais bem interessante e ao qual vale a pena dedicar algum tempo. Além de poder associar barcos específicos para certas rotas, você também pode criar pontos de depósito intermediários entre suas ilhas, garantindo que sua produção excedente nunca vai ficar parada e sempre vai trazer bons rendimentos.

Anno 117 é um jogo lindo, mas com elementos feios

Um dos elementos que mais ajuda Anno 117 a se diferenciar em relação a outros jogos de gerenciamento de cidade são seus visuais. Enquanto boa parte do tempo você vai ter uma visão aérea de sua cidade, sempre é possível aproximar a câmera para conferir as animações detalhadas de personagens conforme eles cultivam campos, cortam madeira ou simplesmente se divertem em festivais.

É até mesmo possível acionar um modo em primeira pessoa para andar por suas ruas detalhadas e sentir que você realmente contribuiu para criar uma cidade viva. Infelizmente, a beleza do game não se traduz para os personagens que formam seu modo história.

Embora seja fácil se acostumar com os modelos usados depois de certo tempo, eles sempre parecem excessivamente simples e pouco expressivos — não fazendo justiça ao bom trabalho da equipe de dublagem. O problema se acentua caso você use sistemas como o DLSS ou o FSR para aprimorar o desempenho do jogo, já que isso torna os personagens em tela visivelmente borrados.

Mas o game vale a pena?

Apesar de trazer alguns elementos que parecem destoar de sua proposta, Anno 117 é um belo jogo de construção de cidades que deve agradar muito aos fãs do gênero. Ao explorar um período histórico de aparente paz, o título permite brincar com elementos de duas civilizações e estabelecer estruturas bastante complexas, mas ao mesmo tempo fáceis de entender em sua forma básica.

Enquanto boa parte dessas forças já apareciam em jogos anteriores, a Ubisoft acertou muito ao repensar a interface da série, que se mostra bem convidativa a novatos. Ao mesmo tempo, vai ser preciso prestar atenção a descrições e ter uma mente calculista para tirar o máximo proveito das construções disponíveis e das possibilidades produtivas que elas oferecem.

Anno 117 tem espaço para melhorias em sua campanha e em seus sistemas de combate, mas seus desenvolvedores conseguiram entregar um título bastante coeso e que cumpre bem sua proposta. Assim, caso jogos de estratégia façam parte de seus interesses, há bons motivos para dar uma chance ao capítulo mais recente da franquia.

Jogamos Anno 117 no PC com uma chave fornecida pela Ubisoft Brasil