
O ano era 1999 e, na época, eu dividia o meu tempo estudando para o vestibular e jogando Metal Gear Solid no PlayStation 1 (Kojima, o que você fez!!!). Sem tempo para novos jogos, eu literalmente passei um ano jogando aquele game quase todos os dias, a ponto de saber de cor o que fazer em cada ponto do mapa.
O tempo passou e, confesso, nunca outro jogo da série Metal Gear conseguiu me conquistar por inteiro como aquele. Eram outros tempos, mas quando Metal Gear Solid 3: Snake Eater foi lançado já no PlayStation 2, em 2004, eu já tinha me formado na faculdade e, infelizmente, não tinha mais o mesmo tempo disponível para jogar no modo repeat como se só existisse um jogo no mundo.
Visitar um título mais de 20 anos depois pode pregar algumas peças na sua memória. O que parecia incrível, hoje talvez não seja mais interessante assim. Com certeza você já deve ter sentido uma sensação como essa em algum game ou filme, especialmente se você já passou dos 40, como eu. Porém, quando algo é bom, isso só reforça as suas lembranças.
Reviver esse legado sem a participação de Hideo Kojima, o diretor japonês que dedicou quase 28 anos à franquia, me gerou um certo receio. A relação conturbada entre Kojima e a Konami, que acabou resultando na saída do diretor da empresa, deixava uma grande questão sobre a “alma” do remake. Meus medos todos acabaram depois de algumas horas com o game.
“Remasterização Premium” com alma
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater não se propõe a ser uma reimaginação radical, mas sim uma preservação fiel da obra original. Ele se aproxima mais de um “remaster premium”, mantendo a dublagem original e a estilização única de Kojima. Isso é ótimo em muitos aspectos, especialmente para quem já jogou o game, mas pode não ser tão interessante assim para quem está entrando pela primeira vez nesse universo.
Essa abordagem é um contraste direto com remakes de sucesso como os da Capcom, citando Resident Evil 4 como um exemplo de games que frequentemente mudam até mesmo a história e/ou censuram elementos.
A Konami, e a equipe da Virtuos, optaram por um caminho seguro, o que para mim, nesse caso, foi a decisão mais sensata. Todos os diálogos e vozes originais foram mantidos, e o jogo faz questão de honrar Kojima, exibindo seu nome nos créditos e na abertura, algo surpreendente após a polêmica de Metal Gear Solid V. O jogo é, em sua essência, uma convite à nostalgia para os fãs de longa data.

Gráficos deslumbrantes, mas pesados
Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção foram os gráficos. Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é visualmente impressionante, pois está baseado na Unreal Engine 5. A selva, em particular, com folhagens densas, água e animais ricos em detalhes, chama demais a atenção.
Os modelos dos personagens também receberam um tratamento caprichado, mostrando cicatrizes e sujeira que aderem ao corpo e roupa de Snake, representando o desgaste da jornada. No entanto, essa modernização gráfica trouxe um contraste interessante. Enquanto os ambientes são super realistas, os modelos dos personagens mantêm uma linha que flerta com traços de anime e uma movimentação dramática, planejada para compensar a falta de detalhes faciais no PlayStation 2.
Porém, nem tudo são flores. A exemplo de outros jogos que rodam em Unreal Engine 5, meu PC sofreu quando coloquei tudo no máximo. A configuração não é modesta e deveria suportar algo assim – uma RTX 4080 Super combinada com um AMD Ryzen 7 7800X3D. Precisei reduzir a qualidade para continuar jogando sem travamentos, algo decepcionante, mas não a ponto de comprometer a experiência.

Controles modernos x jogabilidade nostálgica
A jogabilidade é onde Metal Gear Solid Delta: Snake Eater brilha para os novos jogadores e oferece escolhas para os veteranos. A grande adição é um esquema de controle moderno, com mira em terceira pessoa por cima do ombro e movimentação mais fluida, semelhante a Metal Gear Solid V. Isso torna o combate e a movimentação muito mais acessíveis e precisos, corrigindo elementos que poderiam parecer datados.
Independentemente da sua preferência, o mais importante aqui é: você tem escolha – e isso é louvável do ponto de vista do desenvolvimento. As lutas contra os chefes e o layout dos mapas, em sua maioria, permaneceram idênticos. Para mim, isso remeteu a jogar uma versão com muitos “mods gráficos” do game original.
Ainda assim, há melhorias de jogabilidade muito bem-vindas, como atalhos para a troca rápida de camuflagem e acesso ao rádio. Um novo modo de “perseguição” (stalking mode) permite movimentos mais lentos e silenciosos e os inimigos têm uma percepção aprimorada.

Remake como “R” maiúsculo
O jogo é um remake perfeito em termos de conteúdo. Desde os Kerotan (sapinhos verdes) e o patinho GA-KO, até formas secretas de derrotar chefes (como adiantar o relógio do sistema para o The End morrer de velhice) e interações específicas (jogar animais venenosos nos inimigos, ver cutscenes em primeira pessoa com R1/RB), tudo está intacto.
Os modos “Secret Theater” e “Snake vs. Monkey” (agora com Astro Bot e novos níveis no PS5 e PC) estão de volta. O minigame Guy Savage, excluído de outras coletâneas, também retornou.
Além disso, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater introduz o modo online FoxHunt, que promete ser uma versão de “pique-esconde” com elementos de camuflagem e sobrevivência da franquia. Não joguei esse modo, pois ele não estava disponível no período anterior ao lançamento.

Uma história que resiste ao tempo
A narrativa de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é um dos seus maiores trunfos, e pouco mais de vinte anos depois ela continua funcionando. Situada na Guerra Fria, ela explora temas de lealdade, sacrifício, patriotismo e manipulação política. O duelo entre Naked Snake e The Boss, sua mentora, continua sendo um ponto alto da história dos games neste século.
Ainda que existam momentos que exigem “suspensão da descrença” e algumas cenas com câmeras indiscretas que envelheceram mal, a história mantém sua relevância e a capacidade de ser séria e, ao mesmo tempo, hilária, com elementos como revistas adultas para distrair guardas e paradoxos temporais.

Vale a pena?
Minhas impressões sobre Metal Gear Solid Delta: Snake Eater são majoritariamente positivas. Para um remake, ele se destaca como um dos poucos focados na preservação fiel, e não na reimaginação completa.
Para os fãs de longa data, como eu, é uma modernização respeitosa ao legado de Kojima. O jogo me fez sentir como se estivesse experimentando Metal Gear Solid 3: Snake Eater pela primeira vez, com o impacto visual e emocional renovado.
Para novos jogadores, no entanto, a experiência pode ser um pouco diferente. Sem a nostalgia, alguns podem sentir o jogo “datado” devido à estrutura das fases e certas frustrações de jogabilidade. A decisão de não tomar grandes riscos criativos, ao contrário de outros remakes, deixou-me pensando nas oportunidades de expansão que foram descartadas, como mapas mais conectados ou inimigos remixados.
Mesmo para alguém que não é novato na franquia, como eu, o game em alguns momentos parece cansativo e arrastado demais, num sinal da evolução de gameplay que tivemos ao longo das décadas.
Apesar de pequenos engasgos de desempenho no PC e eventuais estranhezas nas texturas, nada diminui o que o remake se propõe a ser: uma experiência cativante e especial, mas com uma nova roupagem e muitas opções de ajustes.
O preço de R$ 349,90 na versão para PC não ajuda. Minha recomendação é aguardar uma promoção se você é novo na franquia. Mas se você ama Metal Gear e deseja reviver essa história que deu origem à linha cronológica da franquia com gráficos aprimorados, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é um prato cheio.
É um jogo que não apenas resistiu ao teste do tempo, mas que, mesmo sem seu criador, prova que sua obra pode ir muito longe.
Possibilidade de escolher entre mecânica antiga e nova
Trabalho muito fiel à obra original, incluindo modos secretos e atalhos
Ótimo trabalho gráfico na ambientação e na modelagem dos personagens
Valor alto para o lançamento de um remake
Problemas de desempenho da Unreal Engine 5 em gráfcos de alta qualidade
O game Metal Gear Solid Delta: Snake Eater foi gentilmente cedido em versão para PC para realização desta análise.
*A venda dos produtos indicados nesta página pode gerar comissão para o Adrenaline.
- Categorias
Participe do grupo de ofertas do Adrenaline
Confira as principais ofertas de hardware, componentes e outros eletrônicos que encontramos pela internet. Placa de vídeo, placa-mãe, memória RAM e tudo que você precisa para montar o seu PC. Ao participar do nosso grupo, você recebe promoções diariamente e tem acesso antecipado a cupons de desconto.
Entre no grupo e aproveite as promoções