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Crise de talentos: falta mão de obra técnica na indústria de semicondutores

Previsão global indica escassez de um milhão de profissionais qualificados até 2030. Veja o que está em jogo e como empresas tentam reagir.

Crise de talentos: falta mão de obra técnica na indústria de semicondutores
Créditos: Reprodução/DALL-E

A indústria global de semicondutores vive um paradoxo. Apesar de registrar faturamento recorde de US$ 627,6 bilhões em 2024, puxado pelo avanço da inteligência artificial, da conectividade 5G e do setor automotivo, enfrenta um apagão iminente de mão de obra técnica.

Segundo estimativas da organização Semi, será necessário contratar cerca de um milhão de profissionais qualificados até 2030 para sustentar o ritmo de crescimento previsto.

A lacuna não está apenas na base. Há carência de engenheiros, técnicos, gestores intermediários e lideranças de alto nível, muitos dos quais precisarão ser recrutados fora do próprio setor de chips, uma medida que indica o grau de urgência do problema.

Projeções preocupantes em todas as regiões

O impacto da escassez não será homogêneo. Nos Estados Unidos, a expectativa é de déficit de 67 mil profissionais no segmento até o fim da década. A Europa deve enfrentar uma falta superior a 100 mil engenheiros, enquanto na região Ásia-Pacífico a estimativa ultrapassa os 200 mil.

Além disso, o mercado demandará pelo menos 100 mil gerentes de nível médio e 10 mil executivos sêniores, num cenário em que o envelhecimento da força de trabalho agrava o quadro.

Só nos EUA, um terço dos profissionais da área tem 55 anos ou mais, e muitos devem se aposentar nos próximos anos.

Divulgação/TSMC

Formação estagnada e desinteresse crescente

Parte do gargalo se forma nas universidades. A quantidade de estudantes matriculados em cursos ligados à engenharia elétrica e à microeletrônica tem caído.

Na Alemanha, houve queda de 6,5% nas matrículas em áreas STEM em 2021, enquanto na Irlanda apenas 742 alunos iniciaram estudos em engenharia elétrica em 2017. Nos EUA, esse número ficou em 13.767 em 2018.

Ao mesmo tempo, as exigências de qualificação mudaram. Habilidades em inteligência artificial, machine learning e desenvolvimento de software embarcado passaram a ser mais valorizadas que conhecimento tradicional em circuitos analógicos ou arquitetura de sistemas.

“Falta de atratividade em comparação com Big Techs”

Segundo a própria Semi, 92% dos executivos do setor relatam dificuldade em contratar profissionais qualificados.

O problema não se restringe à formação: a rotatividade também está crescendo rapidamente. Em 2024, a expectativa era que 53% dos trabalhadores da indústria de semicondutores deixassem seus cargos, um salto em relação aos 40% de 2021.

Os motivos mais citados incluem a ausência de perspectivas de crescimento (34%) e falta de flexibilidade no trabalho (33%). “O setor ainda perde em atratividade quando comparado às gigantes da tecnologia”, comenta um relatório da associação.

Apenas 60% dos gestores acreditam que a imagem das empresas de chips é suficientemente competitiva no mercado de trabalho

Concentração produtiva amplia a complexidade

A estrutura geográfica da indústria aumenta os desafios. Embora os EUA concentrem 46,3% do market share, a maior parte da produção está na Ásia, com Taiwan responsável por 65%, China por 15%, Coreia do Sul e EUA empatados com 12%.

A disparidade complica a movimentação de executivos e especialistas entre regiões. Profissionais altamente qualificados tendem a permanecer em seus países, a menos que recebam ofertas de promoções ou aumentos salariais significativos.

Divulgação/TSMC

Iniciativas e reações ainda tímidas

Para tentar reverter a situação, governos e empresas estão acelerando investimentos em capacitação. Os EUA lançaram a Workforce Partner Alliance, com parte do orçamento de US$ 5 bilhões do National Semiconductor Technology Center (NSTC). O programa pretende financiar de 5 a 10 iniciativas de formação profissional, com bolsas entre US$ 500 mil e US$ 2 milhões cada.

Na Europa, o Chips Act prevê €43 bilhões em incentivos para produção local. Já o Reino Unido, mesmo com um programa de £1 bilhão para a próxima década, ainda está distante da capacidade necessária para atrair grandes fabricantes.

Um problema estrutural, não pontual

Além das iniciativas de formação, as estratégias de retenção também ganham peso. O setor de tecnologia como um todo tem um índice de evasão estimado em 13,2%.

Para contornar isso, as empresas vêm reformulando políticas internas: 73% já contratam com base em competências, e não mais apenas em diplomas ou histórico no setor, abrindo espaço para talentos vindos de áreas como software e automação industrial.

A baixa diversidade também chama atenção. Apenas 17% dos cargos técnicos são ocupados por mulheres, abaixo da média industrial de 23%. A mudança de cultura organizacional, portanto, também será crucial para reverter o cenário.

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E o Brasil? A encruzilhada entre o potencial e a dependência

Mesmo sem ter presença significativa na fabricação de chips, o Brasil não está imune à crise global de talentos na indústria de semicondutores. Pelo contrário, a escassez de profissionais qualificados já afeta setores estratégicos como telecomunicações, energia, automação industrial e segurança digital, que dependem diretamente de tecnologias embarcadas.

Hoje, o país conta com menos de mil profissionais atuando diretamente no design de circuitos integrados, segundo estimativas de universidades como UFRGS e Unicamp. A formação acadêmica segue desatualizada em muitas instituições, e os investimentos em P&D são frágeis.

A CEITEC, estatal voltada ao desenvolvimento de semicondutores, chegou a ser ameaçada de extinção, um sinal claro da dificuldade em transformar conhecimento técnico em política de Estado.

A maioria das empresas de base tecnológica no Brasil ainda opera de forma isolada, com baixa colaboração com universidades.

Enquanto isso, países como Estados Unidos, Taiwan e Coreia do Sul intensificam parcerias estratégicas entre governo, setor privado e instituições de ensino para garantir soberania tecnológica.

Se o Brasil quiser se inserir nesse ecossistema global com relevância, o ponto de partida é a formação técnica. Investir em capacitação, bolsas de pesquisa, laboratórios de microeletrônica e integração entre áreas como engenharia elétrica, ciência da computação e física é urgente.

A janela de oportunidade está aberta, mas ela fecha rápido.

Fonte: Semi e Ziliatech

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